"Já estava com saudade do cheiro da Terra molhada, do ronco do trovão como também do barulho da chuva caído sobre o telhado. Do inverno a única coisa que me assusta é o relâmpago, mas como o estrondo só chega depois do raio cair, quem o escuta é sinal que não foi atingido. Estou confiante que teremos um bom inverno com uma grande fartura em nossas mesas e também com a fé que voltaremos ver nosso Rio Jaguaribe correr o ano todo novamente". Desabafou um agricultou da localidade de Córrego do Machado, um dos locais mais afetados pela seca, nos últimos seis anos.
Na manhã desta Segunda Feira (23) de Janeiro, em visita a algumas localidades da Zona Rural de Jaguaruana, tive a oportunidade de ver nos olhos de alguns agricultores a esperança que surge lá no fim do horizonte. A aproximação das nuvens, juntamente com a notícia de que o Ceará poderá ter um bom inverno, enche de brilho o olhar sofrido de que há quase uma década não ver a chuva cair em abundância no sertão. Sobreviver no campo, em dias atuais, nada mais é que fazer um verdadeiro malabarismo. A falta de invernos regulares tem afugentado a população do campo para cidade aumentado, ainda mais, os problemas sociais.
"Há quase 70 anos moro nesta região e não me recordo de ter passado por um período de tamanha escassez. Não me lembro de ter visto o nosso Rio tão seco como temos visto nestes dois últimos anos. O que me deixa muito triste é de saber que tudo isso que está acontecendo tem a mão do homem como verdadeira responsável por grande parte dessa tragédia. O homem se tornou um animal irracional e mesmo com os castigos que Deus e da Natureza, estão impondo, parece que ele não aprende. Quando criança não tinha Castanhão e o Açude que abastecia o nosso rio era apenas o Orós. Apesar de ser muito longe daqui quase não faltava água, peixe e tinha muita fartura em nossa mesa". Disse o agricultor com os olhos lacrimejando.
Perguntado se o mesmo pretendia sair do local onde nasceu e se desejava ir morar na cidade, o mesmo disse que preferia passar dificuldades, dividir o pouco do seu dinheiro que ganhava do seu aposento comprando ração para dá seus animais, mas queria ficar morando no local em que foi criado por seus pais e também criou sua família. Para o senhor ao qual conversamos, mas vale uma esperança tarde do que um desengano cedo e pra quem já está com quase 70 anos de vida, sair daqui e deixar de fazer o que gosta é o mesmo que sentenciar sua morte.
"Daqui já partiram muitos compadres e amigos e até mesmo parentes, pessoas que foram morar na cidade ou até mesmo em outros Estados e nunca mais nos encontramos. Hoje já me aproximo dos meus 70 anos de vida e não pretendo sair daqui. Aqui fui criado por meus pais e meus irmãos e também criei meus filhos que por sinal já não moram mais comigo, pois eles têm suas famílias. Nasci e vou morrer na agricultura e mesmo com todas as dificuldades crio meus animais e prefiro tirar um pouco do que ganho para comprar remédios e ração para que todos sobrevivam a mais um ano de dificuldade. A esperança é que vamos ter um bom inverno e se Deus quiser vamos voltar a reviver aos bons anos que já se passaram, se Deus quiser. Sair daqui com essa idade que tenho é como pedir a Deus que me antecipe a morte". Disse o mesmo.
A vida do homem do campo do sertanejo, como costumamos chamar por aqui, não é fácil ou, quer dizer, nunca foi fácil. Porém os camponeses se sentem felizes mesmo vivendo com tamanhas dificuldades. Ao visitar hoje pela manhã, parte da zona rural de Jaguaruana, eu que sou neto e filho de agricultor e ao ver o verde começando a brotar na Caatinga, logo depois as primeiras chuvas que começam a cair, fez me sentir como um dos cidadãos que conversou comigo as margens do nosso Rio Jaguaribe, ou seja, triste, feliz e esperançoso.
Triste por ver o Velho Jaguaribe agonizando, feliz por ver uma possibilidade de voltarmos a ter um bom inverno e esperançoso porque acreditamos que o tempo das vacas magras possa está passando e que se Deus quiser vai levar tempo para voltar novamente, se Deus e a Mãe Natureza assim conceber. Pelo menos é isso que os Nordestinos esperam e confiam.
Observação: A pedido das pessoas que conversamos evitamos postar imagens ou citar nome dos mesmos. Por serem pessoas bem humildes e não gostar de aparecer em redes sociais fizemos o que eles acharam melhor.
Observação: A pedido das pessoas que conversamos evitamos postar imagens ou citar nome dos mesmos. Por serem pessoas bem humildes e não gostar de aparecer em redes sociais fizemos o que eles acharam melhor.
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